Não ouvir...será como um absoluto espaço em branco?, um permanente silêncio, vazio total, ou um mundo próprio de imaginações...?
Tento impor-me a experiência, por alguns momentos, e resulta-me impossível e quase insuportável!
O som e a sua vibração permitem-nos ver através da imaginação um universo de referencias que complementam todos os sentidos. Ele é para a música o que a luz será para a pintura e para a fotografia, e é no cinema onde surge a conjugação mais completa de som e luz, num apelo a quase todos os sentidos.
Foi Nietzsche quem disse que sem a música a vida não faria sentido.
Ouvir música é ouvir um som interior próprio, que nos vibra na alma. É também sentir o percutir do ritmo da terra, o silvar do vento, o sino que marca a hora na distancia, o chilrear dos pássaros, a trovoada de Verão, o acorde da orquestra e o suave chorar de uma criança, até as mais insuportáveis frequências de uma maquina industrial. Mas é, acima de tudo, a capacidade de sentir uma vibração interior.
Beethoven terá sido quem mais ouviu a música de uma forma interior.
Privado ainda jovem daquela que era a sua mais valiosa faculdade, exteriorizou através da partitura todo esse enorme som e vibração que levava na alma, de uma forma genial e comovedora. Foi a breve experiência de sons ouvidos e retidos na memoria que permitiu a Beethoven imaginar novos sons e criar um universo musical sem precedente, e tantas vezes tão incompreendido.
De alguma forma todos nós ouvimos uma música interior que nos põe em harmonia com o que nos rodeia. Cada um ouve e sente a sua própria música e cada um ouve também o silencio. É o silencio na música que suspende e prolonga o tempo da emoção. Sem o silencio a separá-las, as quatro primeiras notas da quinta sinfonia não teriam o mesmo significado.
Dizem-me os que "não" ouvem quem sentem essa vibração interior e física das graves frequências e que, para eles, também essa é "a sua música".
Há coisas que só podemos perceber na ausência das mesmas... Sem silencio, também não haveria música. E a música existe em cada um de nós